segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Sobreviver à Lisbon Maker Faire


As TIC em 3D participaram na segunda edição da Lisbon Maker Faire, já não mini como na primeira (que só era mini no nome). Foram três dias intensos de muita partilha e aprendizagem. Um evento do qual se sai exausto, mas com a mente a fervilhar de ideias. E por aqui não se é muito de electrónicas e robóticas, ficamos mesmo pela modelação e impressão 3D. Se se fosse, ainda mais ideias explodiriam. A desvantagem destes encontros para quem vai individualmente é que não há tempo para fazer mais do que curtas visitas num espaço cheio de projectos fascinantes. Mas mesmo com pouco tempo para explorar, as ideias começam a crescer.
 
Alguns dos objectos criados pelos nossos alunos. 
 
Novamente surpreendemos quem nos visitava com o trabalho dos alunos. Se a aprendizagem da modelação 3D já é feita há alguns anos, a impressão 3D foi iniciada há poucos meses atrás. E já temos resultados, embora incipientes, com objectos impressos pelos nossos alunos. Estamos a experimentar, percebendo o que funciona melhor e pior, para desenvolver actividades e metodologias de trabalho. Dar os primeiros passos num território novo e desconhecido é uma experiência fascinante. Foi com orgulho que regressámos à Maker Faire, especialmente porque foi a primeira Faire que lançou a faísca para a evolução das TIC em 3D.


Graças a isso talvez sejamos mesmo o primeiro projecto integrador da impressão 3D no segundo e terceiro ciclos do ensino básico. Se há outros, desconhecemos, mas adoraríamos conhecer e partilhar experiências. Nos campos mais especializados do ensino secundário e profissional a utilização desta tecnologia já se começa a generalizar. Mas o nosso público-alvo é mais jovem, e o que pretendemos não é gerar pequenos especialistas na impressão 3D mas introduzir a tecnologia de forma equalitária, despertando a curiosidade e possibilitando aos nossos alunos experimentar trabalhar com algo com que só tomariam contacto distante através dos meios de comunicação. E nesta fase inicial de massificação da impressão 3D, talvez só isso já seja uma vitória. Mas não queremos ficar por ai. Queremos perceber como integrar esta tecnologia com os currículos, para perceber quais as suas valências pedagógicas. O imprimir por imprimir não nos parece gerador de aprendizagens, mas também sabemos que estamos a seguir caminhos ainda pouco trilhados por cá. Noutros países já há experiências mais desenvolvidas, e acompanhamos algumas que nos inspiram. Caso do trabalho fabuloso da Morphi. O Instagram deles é uma fonte de inspiração artística e pedagógica.


 Cá estamos ao cair da noite.

É impossível não nos sentirmos pequeninos na Maker Faire. Tudo à nossa volta é tão fantástico e avançado. As ideias concretizadas de hackers, criadores e estudantes estão muito além do que fazemos no nosso pequeno projecto e demonstram uma criatividade impensável há poucos anos atrás fora de contextos de laboratórios. Esta é um pouco a nossa percepção. Sentimos, por isso, uma honra enorme por também lá estarmos a representar a nossa escola. E sentimos também o quanto temos de caminhar e evoluir.

Coisa rara, apanhados do lado de cá da lente. Os óculos não ajudam a disfarçar as olheiras. Foto via Anpri.

Nestes momentos mais reflexivos quase nem acreditamos até onde chegou esta ideia. Desde as aulas de Educação Visual e Tecnológica onde demos os primeiros passos a uma tese de mestrado que, virtude do empurrão dado pelo orientador, Dr. Vítor Cardoso, nos abriu o mundo da realidade virtual e colocou grupos de alunos a fazer mundos virtuais tridimensionais. Ironicamente, obrigou-nos a aprofundar o Sketchup, ferramenta que detestávamos e agora é peça central no nosso arsenal de aplicações e metodologias de aprendizagem inicial do 3D. Não nos quisemos ficar por uma tese de mestrado arquivada a ganhar pó na prateleira e partimos para um desafio que ainda não conseguimos repetir, o criar filmes de animação 3D por alunos do primeiro ciclo. Talvez este ano, aproveitando a oportunidade da introdução à programação no primeiro ciclo, se consiga fazer qualquer coisa com impressão 3D. A ideia está cá. Com o fim da disciplina de Educação Visual e Tecnológica abraçámos o desafio das TIC, onde o 3D se tornou um dos elementos (junto com a programação e a edição avançada de vídeo) de uma abordagem às metas curriculares que procura estimular o uso criativo das tecnologias digitais. E agora o incrível passo da impressão 3D, possibilitado pelo prémio Inclusão e Literacia Digital. Nunca imaginámos chegar até aqui. E não nos parece que cruzemos os braços e nos fiquemos por aqui.

E, claro, não trouxemos a impressora como elemento decorativo...

Terminamos esta já longa reflexão com agradecimentos. Este projecto não é possível individualmente. É-o pela combinação das nossas ideias com um bom ambiente de escola, alunos interessados e colegas de trabalho que nos apoiam. O primeiro agradecimento vai para todos os alunos, de ontem, hoje e amanhã, cujo entusiasmo e sede de aprender é o que nos obriga a querer tentar sempre inovar. A todos os professores que nos apoiam, e em especial para a direcção do Agrupamento de Escolas Venda do Pinheiro, sempre os primeiros a dizerem-nos vai em frente.

Nesta edição da Maker Faire, temos também de agradecer a ajuda da ANPRI, que nos fez companhia no evento e recebeu uma merecidíssima distinção como Maker of Merit pelo que levou de projectos de robótica educativa e arduino. Sublinha a importância de nós, educadores, arriscarmos a participação em eventos que possibilitam mostrar ao público em geral em contextos fora do mundo da educação o que se faz de verdadeiramente criativo e inovador na escola pública.

Não podemos deixar de registar um agradecimento muito especial à BeeVeryCreative, pela ajuda que nos deu quando tivemos um percalço com a nossa preciosa Beethefirst durante a Faire. Foram muito para além do que esperávamos, com uma simpatia extraordinária. E também porque quando os contactámos na Maker Faire e reconheceram o nosso nome comentaram logo ah, é o professor que faz aqueles projectos tão giros que gostamos de ver. Estas pequenas coisas aquecem-nos o coração. Fantástico! (Aposto que já devem estar um pouco cansados de me ouvirem agradecer...)

Atrever-nos-emos a dizer até à próxima Lisbon Maker Faire? No ano passado achávamos que iria ser uma experiência irrepetível, e no entanto... cá estivemos. Agora é hora de recuperar um pouco as energias, arrancar o ano lectivo já com ideias rápidas e interdisciplinares de modelação para introduzir o imprimir em 3D (vão ser objectos muito planos, mas enfim, o conceito é o de iniciar), preparar alguns desafios próximos que divulgaremos em tempo útil, investigar outras vertentes de modelação 3D (ao trocar impressões com Francisco Mendes da BeeVeryCreative percebemos que há um potencial enorme no Tinkercad, e ficámos viciados) e explorar algumas das ideias e contactos que fizemos na Faire, especialmente os daqueles que, como nós, estão focalizados na intersecção entre artes, pedagogia e tecnologia. Se não tentarmos, pouco conseguiremos, e se tentarmos, certamente que encontraremos vertentes inesperadas.

(Porque é que falamos aqui sempre na terceira pessoa, apesar deste projecto depender muito do esforço de um só? Para sublinhar que isto não seria possível sem os alunos nem um bom ambiente de escola. É esta intersecção que alimenta as TIC em 3D.)

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