sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Acham que quando faço isto estou a jogar...


É habitual invadirem-me a sala fora de horas. São alunos em busca de dois dedos de conversa, ou à procura de solução para um problema técnico. Outras vezes querem-me mostrar o que vão fazendo. Não me chateio com isso. Nos intervalos pode ser complicado, porque há outros afazeres, mas fora da aula faço questão que a sala que cooptei como gabinete de trabalho tenha sempre a porta aberta. Ficam sempre curiosos com a infra-estrutura de servidores e os racks de routers e switches. Um destes dias tenho de tirar um dos projectores de slides da prateleira para lhes mostrar como se projectavam imagens antes da ubiquidade dos videoprojectores. É das perguntas mais recorrentes.


Tudo isto para contextualizar uma agradibilíssima invasão que me fizeram hoje, enquanto andava atarefado no intervalo a verificar as finalizações dos projectos finais dos alunos. A ex-aluna que tem andado nos seus tempos livres a explorar por si o Sketchup veio mostrar mais uma iteração da sua casa meio indiana. Meteu o nariz num test render de um trabalho de animação em Bryce de um aluno de 7.º ano e comento lembro-me vagamente do professor me ter ensinado isso....e depois sai, regressa com uma pen e mostra-me como vai o seu projecto de estimação. Ainda não sei bem o que fazer com o resto das divisões, disse enquanto eu me espantava com o cuidado tido com os pormenores das zonas que já terminou. É particularmente notável porque ela modela tudo de raiz.


Fiquei apaixonada pelo Sketchup, referiu quando lhe perguntei se se interessava por arquitectura, e gosto muito de desenhar roupas, referindo também que está muito intrigada pelo Marvelous Design, uma aplicação de modelação específica para criar meshes de roupas. Mas acham que quando faço isto estou a jogar. No entanto, esta é uma área de interesse em que se empenha e tem muito gosto. Espero que não desista disto, porque o talento está lá e a vontade de o desenvolver também. Quantos adolescentes conhecem que no tempo livre se dedicam a modelar cozinhas com todos os pormenores? No visualizador inserido do Sketchfab podem ver melhor e em 3D como vai este belíssimo trabalho. E sim, desta vez não me fiquei pelos elogios. Critiquei a escadaria que de momento não faz ali sentido, a menos que o passo lógico de estender o projecto seja dado. Foi mais desafio que crítica, enfim.


Tenho andado numa troca de mensagens de email com um dos elementos do Sketchfab, o repositório de modelos 3D onde deixo os melhores trabalhos criados pelos alunos no âmbito do 3D Alpha. It's so nice to see that you're teaching 3D design to youngsters. It's a growing skill, and I think a really important one. I actually didn't realize your students were at this age range :), observou. Também partilho desta opinião. O que para mim começou como uma curiosidade estética tem hoje outras dimensões. Se olharmos para o movimento maker e as possibilidades trazidas pela progressiva massificação das impressoras 3D, bem como dos nichos económicos de criatividade em game design, animação e outras vertentes do mundo digital percebemos que fundamentos sólidos de trabalho com ferramentas digitais de design (do 3D ao video) e introdução à programação poderão ser uma mais valia para os alunos. Note-se que no contexto do ensino básico o objectivo não é nem poderá ser formar animadores 3D ou algo similar, mas sim mostrar possibilidades e abrir gavetinhas mentais no cérebro dos alunos que, mais tarde, lhes possam ajudar a decidir o que fazer nas suas vidas.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Projectos Finais - 8.º A (Minecraft I)



Os responsáveis por este modelo começaram por se inspirar numa mansão aristocrática britânica mas ficaram-se pela fachada. Foram trabalhando o interior do espaço e insistiram especialmente comigo para que prestasse atenção ao grande armazém que incluíram. No visualizador incorporado do Sketchfab podem visitar este trabalho cuidado.


Podia ter feito um melhor trabalho, confessou o autor deste castelo. Sentiu isso após ver um trabalho épico de minecraft desenvolvido por outros dois alunos que ficará para outro post.


Os outros dois alunos que escolheram o ambiente de jogo para trabalho final tiveram a infeliz ideia de fazer pequenas modificações a um mapa descarregado da internet. Foram descobertos mas redimiram-se com um pequeno trabalho. É pena que não se tenham empenhado mais nas suas criações pessoais.

O jogo Minecraft e as possibilidades que traz no domínio da expressão pessoal através da modelação 3D tornam-o uma das ferramentas mais populares entre os alunos. Pode estender o ambiente de jogo a outras plataformas com o Mineways permite-me utilizar os saberes e competências dos alunos aplicados em TIC. Para os alunos mais interessados neste jogo é uma oportunidade de misturar o lúdico com o trabalho em vertentes de utilização criativa das tecnologias digitais.

Projectos Finais 8.º A (Scratch)

Este foi o primeiro ano em que arrisquei trabalhar Scratch e fiquei surpreendido pelo seu potencial. O interesse que desperta nos alunos, a motivação que ganham, a absoluta concentração na resolução dos problemas e a flexibilidade mental que exige são algo fantástico de observar nos alunos.


O criar jogos foi um ponto de partida que despertou o interesse de alguns alunos. Este foi o mais elaborado, criado com muito esforço e empenho por uma aluna.


Duas alunas optaram por trabalhar um dos desafios iniciais de aprendizagem da linguagem.


Mas foi o poder criar jogos que capturou o interesse daqueles que escolheram Scratch para criar e apresentar os seus projectos finais.

Pequenos sucessos...


... pequenos encorajamentos. Como abrir a caixa de correio e encontrar uma palavra simpática do Sketchfab, o fantástico site que vou entupindo regularmente com os mais promissores modelos 3D criados pelos alunos.


Ou abrir o espaço no Scratch MIT e ver que não sou só eu que considero que o trabalho da minha aluna é interessante. São simpáticos reforços positivos, que dão ainda mais vontade de continuar.

Projectos Multimédia - 8.º A (3D).


Este castelinho foi a melhor surpresa nos trabalhos criados em Sketchup. As alunas responsáveis estavam sem ideias no início do trabalho mas acabaram por se entusiasmar e criar um modelo simples, coerente e encantador.


Este trabalho é aparentemente simples. Se o produto final parece pequeno, note-se que oculta diversos detalhes e um interessante sentido de espaço.


Um dos problemas do Sketchup é o fácil acesso às bibliotecas de componentes, modelos 3D de aplicação fácil. É algo que desencorajo, porque o objectivo é estimular os alunos a criar e o risco de inutilizar um projecto por excesso de aplicação de modelos externos é considerável. Além disso é demasiado fácil perderem-se a aplicar modelos pré-feitos e descurarem a exploração individual.


Confesso que este projecto me deixou um pouco desiludido. Esperava mais das alunas que o criaram. Não é um projecto fácil de concretizar, mas poderia ter sido levado mais longe.


Para terminar, um daqueles trabalhos descrevíveis como "menor esforço possível". Nem sempre se chega a todos, há alguns alunos cujos horizontes são outros e que não conseguimos motivar. Isso é natural. Uma das características que nos distingue é a enorme diversidade de interesses e possibilidades. Mas há que sublinhar que o esforço para entregar um trabalho final, cumprindo o que foi pedido, foi conseguido. Esse é outro dos objectivos desta abordagem, que no fundo é um objectivo elementar em qualquer nível de ensino.

Projectos Multimédia - 8.º A - Vídeo


Nos trabalhos em vídeo criados por alunos desta turma o destaque vai para este rendering de motion design criado por um aluno em Endorphin. Quis aproveitar o projecto final para aprofundar os seus conhecimentos deste programa, que está a descobrir por interesse pessoal, e passou o tempo destinado à criação dos projectos a dominar o interface, perceber como posicionar os modelos ao longo da linha de tempo e afinar os movimentos. Não ficou satisfeito com o resultado final, afirmando que há muita coisa que tenho de melhorar. É natural que sinta isso. Quando aprendemos algo que estimula a criatividade cada trabalho é um passo num longo caminho e não um destino. Há sempre algo a melhorar, a aperfeiçoar, uma nova maneira de fazer. Espero francamente que este aluno, com as agruras do crescimento e da vida, não perca esta vontade de criar e descobrir.


Outro trabalho que me surpreendeu foi este fan film dedicado à sátira sobre videojogos. Não pelo tema, mas pela forma como foi montado.


Notem que o filme tem cerca de trinta segundos e a montagem tem um ritmo muito rápido, com uma justaposição contínua de imagens que espelha a cultura audiovisual contemporânea. Nada mau, particularmente para um aluno que no ano passado completou com muita dificuldade o seu projecto final. É bom assistir a este desabrochar de capacidades.


Outro trabalho significativo foi esta curta homenagem à selecção nacional de futebol. Sim, é muito simples, é uma sequência de imagens a ilustrar uma pista de som com o hino nacional, mas é significativo porque foi criado por um dos alunos com necessidades educativas especiais da turma. Decidimos que estes alunos, com currículos individualizados e dispensados da frequência curricular normal da maior parte das disciplinas, poderiam frequentar TIC. Não é um processo fácil, mas com ajuda de uma professora que lhes dá apoio estes alunos conseguiram criar projectos que espelham aprendizagens. Este caso ganha mais importância porque apesar de poder ter escolhido algo mais simples em aplicações comuns o aluno insistiu em trabalhar com o Vegas. Algo que por si não é simples teve aqui dificuldades triplicadas.


E não poderia faltar o remix de música pop criado por alunas adolescentes. Com mais um pouco de temo chegaria à estética mashup.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Geometria, que seca!


Quem é que aqui não gosta de matemática, perguntei aos alunos desta turma. Vá, sejam honestos, disse enquanto via os braços de quase todos no ar. Em seguida perguntei-lhes se também achavam a geometria irritante, com aquela coisa da diferença entre forma e figura ou as agruras dos traçados com régua, esquadro e compasso. A professora de Educação Visual (ex-EVT) que me desafiou para esta aventura olhava para mim com um olhar que oscilava entre o incrédulo e o furioso. E a seguir expliquei aos alunos que apesar de se estarem a divertir com a modelação 3D estavam na verdade a trabalhar  com matemática e geometria. Porque as formas das naves e dos carros e das casas e dos animais partem de pontos a partir dos quais criamos segmentos de recta que se unem em superfícies que geram formas. E consegui parar mesmo a tempo de descarrilar nas meshes. Porque para saber onde está algo no espaço temos de ter medições precisas e por isso necessitamos do valor das coordenadas cartesianas. E porque hoje íamos trabalhar com quadrados, círculos, segmentos de recta e arcos.


Alguns prestaram atenção, outros ignoraram-me alegremente enquanto modelavam veículos no Doga L3. Mas hoje foi dia de dar mais um passo e iniciar-se em Sketchup. Já habituados a um interface de janelas com múltiplos pontos de vista, as primeiras duvidas dos alunos ficaram pelo como é que vemos de cima/lado/frente. Mas foi coisa pouca. Poucos minutos foram precisos para que estivessem alegres a traçar linhas, extrudir superfícies e aplicar texturas.


Alguns conseguiram mesmo cumprir o primeiro desafio, o de criar uma pequena casa. Nada mau para quarenta e cinco ruidosos minutos que voam no entusiasmo destas crianças por estas experiências de aprendizagem.

Mas não é um jogo?, disse surpreendido no final da sessão um aluno que me perguntou se, tal como no minecraft, se poderia construir no Sketchup com vários utilizadores num projecto. Quer dizer que isto é divertido e é a sério, li-lhe no olhar incrédulo.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Persistências


O Minecraft é um jogo muito popular entre os alunos cuja vertente educacional tem já diversas vertentes de exploração. A mim interessa-me o seu uso como ferramenta de expressão criativa e incentivo os fãs do jogo a criar nele os seus projectos finais. Funciona com o lego, em versão digital, e é intrigante ver o esforço e atenção ao detalhe que os alunos colocam nas suas construções. Note-se que há aqui vários domínios conjugados. O lado lúdico da criatividade, experimentando e criando sem pressões; a percepção mental do espaço que tem de ser invocada quando se trabalha com modelos tridimensionais; o esboçar, construir, destruir, aperfeiçoar, no fundo parte do processo de design; e nos casos mais colaborativos o vencer dos desafios técnicos de criação e manutenção de servidores de jogo. Nada mau para o que aparenta ser apenas um jogo.


 O que é criado no minecraft fica no jogo, mas há formas de contornar esse problema. Pelo YouTube pululam vídeos que mostram périplos por mundos elaborados. O Sketchfab criou um add-on para o jogo que permite exportar directamente para este site de visualização de 3D em webGL. Para outros usos há diversas aplicações que extraem as meshes criadas para exportação em formatos comuns. Estes renders foram criados extraindo os objectos criados por dois alunos no seu mapa de jogo utilizando o Mineways, que exporta em obj para aplicações de modelação e animação 3D e VRML para impressão tridimensional no Shapeways.


Uma importação para o Bryce, alguns renders longos porque o algoritmo de renderização do Bryce é notoriamente ineficaz a gerir tempo e as texturas detalhadas obrigam os processadores a trabalhar no duro. Mas os resultados compensam.


Um pormenor interessante sobre este trabalho é a persistência dos dois alunos que o estão a criar. Para além da vila que estão a construir ainda inclui uma gigantesca catedral. Essa revelo-a amanhã. Mostraram-me as primeiras versões em outubro e suspeito que ainda não tenham terminado...

Minecrafting (editado)


Havia aqui um texto sobre o potencial educativo ilustrado por belos renders de um mapa do Minecraft mas quando o partilhei nas redes sociais um aluno meu, com olho para a coisa, informou-me que o que eu pensava ser um trabalho original era plagiado. Os alunos descarregaram um mapa disponível online, fizeram pequenas modificações e fizeram-no passar como original. Mas uma análise a este vídeo  e a confirmação com o download e comparação dos mapas no Mineways dispersaram as suspeitas. Pronto, lamento mas este trabalho fica como um exemplo do lado negro da sociedade digital, a facilidade acrítica do copiar-colar como forma de desenrascar tarefas. O que não deixa de ser uma experiência de aprendizagem válida, para os alunos e para o professor.


É parecido, não é? Fica aqui a reflexão também sobre o poder das redes sociais. Foi o acto de partilha e divulgação que possibilitou a descoberta. É, no fundo, esse o real poder da internet que tem alimentado uma explosão de criatividade ímpar na história humana pelo seu alcance e dimensão.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Sketching




As boas surpresas que se encontram quando estamos a avaliar os processos de trabalho de alunos de uma turma de sétimo ano.

Iniciar


Pode não parecer muito, mas para quem está a começar é um grande passo.


Os alunos do 5.º H aceitaram o desafio e agora estão no longo mas divertido processo de aprendizagem do domínio elementar de aplicações de modelação 3D. Mais lá para a frente iremos recriar um sistema solar. Até lá vamos aprender a criar modelos no computador.


Quando há dúvidas... pergunta-se, partilha-se o que se aprendeu ou descobriu.


Criar em 3D obriga a treinar os mecanismos de percepção, habituados à constante estimulação da expressão plástica em suportes planos. Mas recompensa ao ver a alegria destes alunos, que passam a hora de formação cívica a aprender que podem ir mais além do que esperavam.

Finalizando


Com o final do semestre a aproximar-se os alunos começam a finalizar os seus projectos finais. E há um pouco de tudo. Uma animação criada no Endorphin, aplicação de coreografia de movimentos para cenas de acção, que o aluno criador tem estado a afinar meticulosamente.


Também temos jogos em Scratch. E não poderia faltar a modelação 3D.


Mais coisas? Mas claro que sim. Alguns grupos estão a finalizar clips de video onde remisturam filmes e música. E há um grupo de trabalhos em Minecraft que vai merecer um post à parte.

sábado, 18 de janeiro de 2014

Trabalhamos mais aqui...


Ai, stor, esta é a aula em que sou obrigada a pensar mais, diz uma das alunas responsáveis por este projecto scratch. O colega que está a co-criar este trabalho final concordou. O dilema deles era encontrar soluções para os problemas que se tinha colocado ao afinar o seu jogo. Querem animações de final de nível. E a forma de contagem de pontos está-lhes a dar a volta à cabeça. Como o professor é um confesso ignorante de scratch (3d é a paixão, recordam-se) incentivou-os a procurar soluções desmontando e analisando projectos já criados e disponíveis na internet. Trabalhos mais aqui do que até em matemática, confessaram.


A malta do 3D também se atarefa. Neste caso é admirável a atenção ao detalhe deste projecto em desenvolvimento. E, a julgar pelas imagens escolhidas, o assumir das pulsões da adolescência por parte do criador deste trabalho, aluno que promete muito no campo dos grafismos digitais e tradicionais.

Hibridização



Hibridizações. Ou como um trabalho complexo não se esgota numa única aplicação. Estes dois exemplos são trabalhos em progresso de alunos de 7.º ano. Um quer criar uma série de imagens realistas em bryce com veículos que criou em Doga e Sketchup. Outra está a criar avatares para um pequeno mundo. Ambos estão a começar a perceber que cada programa não é um fim em si mas um meio para melhor exprimir as ideias. Mas diga-se que o aluno é que está a ter a lição mais dolorosa. É que se o Bryce em teoria aceita o collada como formato de transferência, na prática transferir um trabalho do Sketchup dá muito mais trabalho.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Do possível


Começo a sentir o 7.º ano como, para mim, um novo 5.º ano. Agruras da transição de Educação Visual e Tecnológica para TIC. Noto nos alunos de sétimo mais energia, garra e criatividade pura. Já nos de oitavo sente-se consolidação e um aprofundar da separação de interesses pessoais que se vão afirmando e construindo. Estes registos estão a ser criados por alunos de uma turma de 7.º ano e mostram um pouco da diversidade de projectos que estão a criar. A simplicidade e realismo do Sketchup são o que mais os atrai.


Criar avatares é uma boa forma de trabalhar a figura humana com meios digitais. Podemos ficar apenas pela modelação e animação, mas uma das alunas está a descobrir que pode ir mais longe editando o mapa de texturas do avatar. É muito bom ver aqueles sorriso de descobri algo novo quando os alunos se apercebem que podem ir ainda mais além do que julgavam possível.


Nota-se também uma crescente preocupação com a complexidade dos espaços a recriar, que conjugam formas necessariamente simples (estes programas são de fácil aprendizagem mas requerem persistência e tempo para o domínio progressivo) em espaços complexos.


E ainda temos surpresas como esta, que me deixou de queixo caído. Um cuidado e elaborado projecto criado por um aluno de treze anos.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Semear...


Há sempre aquele momento em que nos perguntamos se vale o esforço. As tecnologias são complexas e o nível introdutório. Valerá mesmo a pena estimular este tipo de trabalhos? Seria mais simples - e mais entediante, optar por uma abordagem mais clássica. Até porque nesta vertente colocam-se questões de expressão plástica e artística que se vão de encontro aos interesses e capacidades de alguns alunos deixam outros um pouco à parte. Daí o foco em diversas vertentes, tendo em comum o conceito de utilização do computador como ferramenta de expressão criativa, e o assumir de um processo de descoberta e alargamento de horizontes que mais do que formar meninos do 3D ou videógrafos pretende dotar os alunos de conhecimentos elementares que lhes permitam posteriormente fazer escolhas informadas. Cada um é como cada qual, todos se desenvolvem nos seus interesses próprios e ficam com uma pequena noção de outros horizontes para além do que lhes é dado no dia a dia. E se se conseguir contribuir para que aquele aluno particularmente dotado para este género de trabalhos acelere o seu necessário percurso de descoberta pessoal e chegue mais cedo ao longo processo de aprendizagem até se tornar proficiente, excelente. Talvez seja esse o desejo secreto de todos os professores no ensino básico. Sabendo que ensinam generalidades a uma imensa maioria, esperam contribuir para que aquela criança que se interessa por uma dada área descubra mais cedo o que consegue fazer e vá mais longe no seu percurso.


Mas por vezes desmoralizamos. Há sempre aquelas alturas em que o progresso é lento e nada parece estar a sair. Mas se calhar esses são os momentos do germinar, quando as sementes que se foram plantando nas explorações introdutórias começam a criar raiz e estão quase a dar frutos. E depois há aquele momento especial em que a curva se inclina com força na direcção de subida. Em que as sementes começam a revelar frutos e esses são excelentes surpresas. É o caso destas duas imagens, parte de algo maior que um dos alunos está a preparar como projecto final. Fui surpreendido esta manhã com quatro completíssimos modelos em sketchup que o aluno fez nos tempos livres porque queria ter bastantes elementos para o seu trabalho. Quer criar um pequeno mundo virtual. Objectos não vão faltar. E surpreendem pelo cuidado, atenção aos pormenores e sentido da forma.


Os magos do minecraft também revelaram que quando se trabalha por gosto os limites de espaços e tempos são secundários. É o que torna o trabalho criativo tão gratificante. Neste caso está a ser um processo colaborativo, com dois alunos a construir num mesmo mapa de jogo em computadores diferentes. Prometem ser épicos.


Desta vez não incorporo por aqui os modelos no Sketchfab, mas podem visualizar em 3D os modelos da catedral (sublime!) e do castelo (adorei o pormenor da varanda).


Mais imagens poderia aqui deixar. Mais trabalhos de modelação arquitectónica em sketchup, ou remixagem de vídeo no Vegas, ou criação de jogos em Scratch. Diversidade é o que se quer, reflectindo interesses individuais. Nem todos são excepcionais, os alunos não são igualmente dotados para todas as áreas, o interesse de uns não implica o interesse de todos. Daí o diversificar, partindo de uma base comum. Plantar sementes e esperar que dêem frutos. É todo aquele trabalho com alunos que não é metrificável em médias e variáveis, mas que na minha opinião é tão importante como a aprendizagem de saberes comuns por permitir esboçar os primeiros passos de caminhos individuais e mostrar que o gosto pela cultura vai mais longe do que a memorização de conhecimentos curriculares.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Doìng


Durante uma visita de estudo ao Pavilhão do Conhecimento - Ciência Viva convidei um pequeno grupo de alunos a vir explorar o espaço Doìng. Quis mostrar aqueles alunos que têm mostrado potencial no 3D (um anda a experimentar simulação com o Endorphin e outro vai dominando diferentes aplicações para criar mundos virtuais) a impressora 3D opensource patente no espaço. Infelizmente, desligada. Um dos alunos observou que se acha fantástico e incrível que se faça qualquer coisa no computador e depois a impressora passe para o papel, ainda mais fantástico é que se imprima um objecto.


A mais valia do espaço Doìng são as zonas onde as crianças podem experimentar livremente. Brincámos com a pintura de luz, mas os alunos deslumbraram-se com o espaço onde podem brincar com a electricidade, montando circuitos a partir de peças modulares que accionam lâmpadas, luzes em série, sinais sonoros ou pequenos motores. Foi muito interessante vê-los empenhados a experimentar, ligando, desligando, mexendo livremente nos objectos para experimentar e ver no que dava.


O outro espaço que os deixou fascinados foi a "máquina de berlindes", essencialmente uma parede esburacada e uma enorme diversidade de peças com que se podem montar esquemas bizantinos para fazer deslizar berlindes com o máximo de complexidade. Foi, novamente, extremamente interessante ver os alunos a puxar pela cabeça à procura de soluções para os problemas que se iam colocando. Mexiam, experimentavam, testavam ideias, procuravam novas combinações e lá foram montando um percurso que até terminava num acolhimento digno para os berlindes cansados após os volteios do percurso. Esquecemo-nos dos colegas, do resto da visita, e por vontade deles teriam lá continuado a mexer. A bricolar, como dizia Papert. É interessante ler sobre o poder que este tipo de aprendizagem tem. Basta pegar nos livros de artigos de Seymour Papert, Sherry Turkle ou Michell Resnick, talvez os maiores defensores de uma abordagem à aprendizagem que valoriza o experiêncial, o mexer, colocar as mãos, testar e criar in loco. Mas ver a reacção das crianças quando lhes é dada oportunidade para o fazer é algo de maravilhoso.


No nosso sistema massificado de ensino sinto cada vez mais uma viragem fortemente formalista, alicerçada na medição do desempenho em testes padronizados e com consequências ao nível das abordagens pedagógicas que têm de garantir o sucesso nestes testes, optando pelo drill and practice, exposição e memorização com espaço cada vez menor para correlação e abordagens experimentais. Já uma abordagem que estimule exploração livre, que leve ao estimular de processos mentais de exploração criativa através de desafios e manipulação parece cada vez mais longínqua nos tempos que correm. Mas é tão importante fazê-lo, mostrar que este tinkering é fundamental para estimular o desenvolvimento de processos mentais flexíveis de abordagem aos problemas. Adquirir e acumular conhecimento é útil e necessário. É preciso saber para ir mais além. Mas também é preciso mexer e experimentar. São dois elementos da equação da criatividade, e um parece não ter lugar nos correntes sistemas educativos esmagados por pressões de conservadorismo ideológico e interesses económicos.